Chegada dos irmãos Villas Boas no Xingu, expedição – Região do Xingu era um dos grandes gaps da colonização brasileira, a região tem indícios de ter sido colonizada pelos indígenas em torno do ano 500 Ac.
A partir da chegada no alto Xingu, se depararam com o Quarup – celebração ancestral de alguns povos do alto Xingu O Quarup era um ritual de celebração, honra e respeito ao espírito dos anciões/ personalidades importantes para tribo/aldeia.
Era um ritual de encontro de etnias (etnias irmãs e visitantes), ao final havia o uca-uca (luta/ demonstração de força dos guerreiros) “Pax xinguana” – havia muita guerra na região entre diferentes etnias – mas o evento era um dos grandes pacificadores da região (devido a sua característica de troca). Passaram portanto a estimular com que cada vez mais etnias participem.
ORIGEM DA TRADIÇÃO
Baseado na lenda do primeiro xinguano – maivutsinim Lenda Quarup: Maivutsinim queria ressuscitar mortos queridos, pegou 4 troncos de uma árvore sagrada e dançou para que os troncos ressuscitassem, os peixes saíram da água e as onças brigaram com eles (analogia do uca uca). A natureza se alegrou. Para que a ressurreição acontecesse precisava da abstinência sexual, o que não ocorreu então acabou se tornando um ritual para elevar os espíritos.
O KUARUP
O ritual todo dura de 3 a 4 dias, começando na quinta e terminando no domingo.
- Pré Kuarup: Quando a pessoa morre, seu espírito fica vagando na Terra. Acreditam que a separação dos familiares/tribo com aquele espírito não pode ser feita de forma abrupta, necessita de um tempo para essa separação (1 ano) – processo de luto. O ritual começa após o falecimento, a parte documentada do Quarup é o final. Os mortos são enterrados no centro da aldeia (território central = território sagrado) Etnia anfitriã chama uma ou duas tribos para serem co-anfitriões e ajudarem na preparação, estas convidam outras para celebração. Ao longo do ano da celebração acontece caça, pesca (timbó), até o momento do ritual em si.
- Quinta/Sexta: Recepção dos guerreiros que vão ajudar. Ao longo desses dias há um processo intenso com cantadores (cantam para evocar espíritos). os guerreiros se vestem como guerreiros ( cores principais vermelho-urucum e preto-genipa). Os guerreiros passam a tarde cantando e as mulheres e crianças acompanham. A família do homenageado está de luto durante todo o ano. Duas figuras cantam o aruá (flauta mágica) – uma forma de afastar os espíritos ruins, dois guerreiros tocam o aruá
- Sábado de manhã – dia do ritual, no momento dos preparativos, guerreiros buscam na mata os troncos do quarup. A confecção é feita fora do círculo da aldeia, entoando as canções, esculpindo desenhos xinguanos na madeira, usando as melhores vestimentas (colar de caramujo, cocar de arara, e a pena do gavião real que simboliza o guerreiro), após, colocam o tronco no centro da aldeia, os cantadores continuam evocando – os espíritos que até então estavam rondando encarnam no tronco. Nesse momento, os familiares são convidados para o centro da aldeia (mulheres incluídas), o reencontro dos familiares com o espírito é muito emocionante. Cada familiar é lavado com a água do rio na frente de cada tronco (lavar o luto simbolicamente), cabelos são cortados, são vestidos e maquiados junto de seu familiar. No crepúsculo começa a fase final (mais intensa), os cantadores intensificam as canções, as tribos convidadas chegam, acende-se um fogo sagrado na frente de cada tronco (por meio desse fogo o espírito se eleva) – as etnias convidadas anunciam sua chegada e cada um deles pega uma chama do fogo sagrado.
- Sábado a noite: A noite é muito intensa, pajés, guerreiros não dormem para se proteger de espíritos ruins. Ao longo da noite cada família passa junto com seu tronco, chorando muito, enquanto os cantadores entoam a canção (cada etnia tem sua dupla e canta na sua língua). Guerreiros (todas as tribos) passam a noite vigiando A partir do amanhecer os espíritos passam a ser elevados pelo fogo. O fogo é apagado, o pajé fala com cada um da família para consolo. Finalmente o ritual cessa, um pouco antes da alvorada há silêncio absoluto, todos entram em suas ocas.
- Domingo de manhã: acontece o uca uca, os troncos continuam ao longo do dia. Os principais guerreiros de cada tribo participam. É uma luta respeitosa (luta da onça). 11 horas da manhã acaba o ritual.
CURIOSIDADES
- O mapa do Xingu é ao contrário do convencional. O Alto Xingu fica no sul, na nascente do rio, o médio Xingu no meio e o baixo Xingu no norte.
- Região altamente rica em diversidade étnica 24 etnias – maior complexo multilinguístico das Américas
- 11 línguas de 3 troncos linguísticos, tupi, waki e caribe (existem outros troncos fora do Xingu)
- Quarup significa tronco ao sol
- Na tradição oral, a morte de um ancião é a morte da história da aldeia
- Ao longo dos dias, 2 indígenas ficam tocando aruá (flauta mágica) para afastar os espíritos ruins. Ficam indo e voltando com uma mulher do lado e pedindo permissão para os espíritos.
- Restam 7 falantes do yawalapiti
ARITANA
Quando os Villas Boas chegaram ao Xingu os Yawalapiti tinham sido quase dizimados por doenças e guerras. Só haviam sobrado 7 pessoas da etnia. Então incentivaram a junção de pessoas de tribos diferentes, no caso do Aritana, uma mãe kamayurá e seu pai Yawalapiti. Por conta disso, ele se tornou uma figura marcante no Xingu. Chegou a morar em SP com o Orlando e teve até uma novela na tv tupi com seu nome.
Era considerado o cacique dos caciques e nunca perdeu uma luta de uka uka.
Tapi é filho do Aritana.