Índios ou indígenas: Qual o jeito certo de se referir aos povos originários?
Você pode ter se deparado com esse debate na internet ou mesmo se perguntado se os dois termos não são sinônimos utilizados para se referir aos povos da floresta.
Acontece que, no decorrer da vida, passamos por diversas situações que reforçam a imagem do índio. O “dia do índio”, comemorado em 19 de abril, as atividades feitas na escola que abordam superficialmente a cultura indígena, músicas infantis que falam sobre “indiozinhos”, tudo isso colabora com o imaginário coletivo e com a perpetuação do termo “índio”.
No entanto, esse debate é muito mais profundo e antigo. Mais do que a palavra utilizada, é necessário entender a origem dessa questão e qual é a opinião daqueles que mais são afetados por ela.
A origem do “índio”
Em 1500, quando os colonizadores portugueses chegaram nas terras brasileiras passaram um bom tempo se referindo ao local como Índias Ocidentais e, consequentemente, os habitantes da terra foram chamados de índios.
Desde então, a palavra tem sido reproduzida no decorrer da história, até chegar nos dias de hoje. A primeira problemática dessa maneira de se referir aos povos originários está justamente no fato de ter sido definida pelos colonizadores, por pessoas que tinham uma perspectiva exterior e superficial desses povos, que os viam como inferiores quando comparados aos povos europeus.
Diferente de indígena, a palavra índio não tem nenhum significado mais profundo atrelado a ela, sendo apenas um apelido, uma maneira de generalizar todos os povos.
Essa generalização fica mais evidente quando conhecemos alguns números. Quando os portugueses chegaram aqui, estima-se que a população indígena tinha entre um e cinco milhões de pessoas. Hoje em dia, existem cerca de 305 povos indígenas compostos por mais de 800 mil pessoas.
Com tamanha diversidade, resumir todos ao nome índio seria um apagamento da história, cultura e hábitos de cada um desses povos.
Como dito por Daniel Mundukuru, doutor em educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos, em entrevista para a BBC “A palavra índio perdeu o seu sentido. É uma palavra que só desqualifica, remonta a preconceitos. É uma palavra genérica. Esse generalismo esconde toda a diversidade, riqueza, humanidade dos povos indígenas.” Assim sendo, o termo índio não é a maneira correta de se referir a esses povos, sendo utilizada ainda nos dias de hoje apenas por hábito e desinformação sobre a sua origem.
Então indígena é o jeito certo?
Sim! Indígena é uma das possíveis maneiras de se referir a esses povos. A palavra indígena significa originário, alguém que pertence originalmente a um local. Por isso, é um bom jeito de se referir aos primeiros habitantes do Brasil, que já estavam aqui muito antes da colonização.
E não para por aí, falar “povos indígenas” ou “povos originários” também são maneiras que valorizam a pluralidade. Talvez você já tenha reparado que nós da AMDAF também costumamos utilizar “povos da floresta” em nossa comunicação, essa é mais uma das denominações que valorizam a história e a pluralidade desses povos. Os Kamayurá, por exemplo, são um povo indígena que vive no Xingu, entre o Cerrado e a Amazônia.
Utilizar a expressão correta é mais do que uma questão linguística, é um sinal de respeito que ajuda no processo de mudança social. A palavra índio vem sendo usada por um longo período, se consolidando no vocabulário popular. Foi somente a partir dos anos 70 que a questão indígena começou a despertar a atenção da sociedade e, desde então, o processo de desconstrução é constante. O mais importante é buscar compreender o assunto e, principalmente, escutar o que as pessoas que compõem esses povos têm a dizer sobre esse e outros assuntos.
Que tal dar um passo além?
Além de reconhecer a diversidade indígena, aprender mais sobre ela pode ser muito interessante. No Brasil, temos aldeias espalhadas do norte ao sul do país e, apesar de algumas culturas indígenas terem características em comum, existem muitas línguas, tradições e rituais que variam de acordo com a localização.
Para se ter ideia, no Parque Indígena do Xingu, uma terra indígena localizada no Mato Grosso, a diversidade é enorme. Nessa região habitam indígenas de 16 etnias e cerca de 11 línguas de 3 troncos linguísticos diferentes são faladas. Com esse exemplo já dá para ter uma ideia da dimensão dessas culturas. Além do respeito, ir mais a fundo na história e na cultura dos povos indígenas é entender sobre as origens do nosso país, sobre as questões que esses povos enfrentam nos dias de hoje e também sobre como podemos ser aliados na busca por reconhecimento e melhorias.
Usar a palavra certa faz toda diferença e é um primeiro passo rumo a uma mudança que pode impactar toda a sociedade.
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